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Caminhamos a passos largos rumo à campanha eleitoral autárquica e as diversas formações políticas começam já a elencar as linhas mestras dos seus programas. É natural que venham à tona as velhas questões relativas a alguns problemas que se arrastam no tempo.
Uma dessas questões prende-se com a situação do Mercado Municipal e focam-se na apresentação de pontos de vista e possíveis soluções para devolver à cidade essa espaço que, unanimemente lhe é reconhecida a urgência na sua reabertura.
Mas a partir deste ponto divergem as opções. Alguma desde logo são alvo do temor básico à inovação, que numa cidade algo conservadora são a priori motivo de desdém e, em alguns, casos de chacota, sem no entanto serem alvo de, pelo menos, a perca de alguns minutos na compreensão da sua dinâmica. Sabendo desde já que ideias que vão contra a opinião geral enraizada pela percepção tradicionalista sofrem duma rotulagem que caprichosamente as coloca no mesmo patamar que simples megalomanidades.
Para já, o que temos? Um edifício fechado pela ASAE fruto das inúmeras advertências, não só emanadas dessa agencia, mas exaradas do conhecimentos geral. Uma tenda que mais não é do que um remendo feito com o pior tecido cuja única característica de grandeza é o consumo de recursos financeiros à autarquia, obviamente muito desproporcionais face aos benefícios. Situação, tão prontamente declarada, transitória e temporária mas À semelhança de outras situações transitórias e temporárias que populam a cidade e o município se revestem dum caráter transitório atemporal.
Objectivos e formas de intervenção
Face ao exposto, as soluções que aparecem prendem-se com o tipo de intervenção a realizar que pode ir da simples modernização à construção de um novo edifício e, por outro lado, o objectivo dessa intervenção, isto é, que valências queremos implementar, somente mercado, centro comercial ou misto. Tais opções acarretam riscos de complexidade e custos diferentes, porém, antes da tomada de decisão é necessário ponderar o que ser criar naquela zona tendo em conta não só a conjuntura actual mas, mais importante, também o enquadramento estrutural de tal investimento que, convém não esquecer, deverá ter um horizonte superior a três décadas.
Os cenários acima descritos reflectem as formas de intervenção em relação aos objectivos primários a que se lhe devem ser somados as particularidades ou objectivos complementares, a dimensão estrutural, o impacto na economia, o número de postos de trabalho, os potenciais utilizadores, clientes, vendedores e logistas. Essas particularidades devem dar resposta à demanda e à oferta, quer na vertente do mercado municipal, do centro comercial ou da solução mista. Noutro plano devem ser atendidas as especificidades do enquadramento na dinâmica económica e qual horizonte de influência que ser quer dar, sobre a economia local, regional ou nacional.
Dimensão estrutural
Num plano da dimensão estrutural temos que o foco pode ser alargado desde uma base local até a uma base nacional, localmente tem-se um investimento muito focado para as transacções comerciais simples entre produtores, vendedores, lojistas e clientes locais, pautando-se por um tipo de comércio de proximidade e, onde a linha entre o que é o comércio típico dos mercados e a das lojas é ténue, porém não dará vazão a eventuais incrementos de demanda. Sobretudo numa região que ser quer afirmar proeminentemente turística é expectável um aumento da demanda fruto do incremento do número de visitantes. Ainda assim, o limite máximo do horizonte de influência definido implica alto risco pelo custo associado ao projecto e probabilidade de se conseguir atingir satisfatoriamente os objectivos de procura a afluência necessários.
A dimensão estrutal aqui apresentada reflecte um opção pela construção de imóvel em altura, na hora de escolher o tipo de intervenção importa referir a importância do impacto urbanístico já que existem claras diferenças entre a construção de um bloco central ou de módulos espalhados pelo terreno. Dessa forma, um edifício uno deverá focar-se nas suas proporções entre altura e profundidade numa dimensão em altura, por outro lado, a contrução de módulos implica uma menor altura e, consequentemente, maior área entre pisos.
Horizontalidade ou verticalidade
Enquanto que a construção em altura centraliza os espaços e torna-os economicamente mais eficientes e liberta espaço para organização de uma praça ampla, de preferência junto ao Rio Nabão, a construção horizontal implica uma altura mais modesta, porém, não permite a criação de um espaço amplo ou praça, incidindo antes em pequenos núcleos ao ar livre e corredores cuja distribuição deve ser perpendicular ao Rio Nabão.
Paisagisticamente devem ser atendidos, não só a proximidade com o Rio Nabão e a sua obrigatória simbiose, mas também a altura média das construções envolventes, nomeadamente na Rua de Santa Iria, edifício dos Bombeiros, edifício do Centro de Emprego, Igreja de Santa Maria dos Olivais, Lar de Nossa Senhora da Graça, Cemitério Velho de Tomar e na Avenida General Norton de Matos. Por fim o enquadramento com a silhueta urbana já que a área se encontra numa zona de encosta ligeira o que a coloca num plano ligeiramente mais elevado do que o centro histórico.
Por fim, as questões acessórias acerca da arquitectura merecem também alguma reflexão. É sabido que o antigo edifício é um marco na herança histórica visual dos tomarenses pelo que o seu desaparecimento provocaria algum efeito nostálgico, porém a questão que se coloca é se se deve escolher pela tradição visual do edifício em detrimento das possíveis vantagens pela vinda de outro.
No entanto, se se reparar bem, trata-se duma falsa questão já que até mesmo a construção dum imóvel de raiz não impede que se perca é tradição e o carinho visual para com a traça do mercado municipal de Tomar. Num novo projecto deve-se até dar grande importância à questão da traça para promover uma harmonia entre o património e a herança legada e o meio ambiente.
Existem vários casos no mundo onde antigos edifícios foram completamente renovados ou construídos de raiz mantendo por exemplo a fachada como é o caso do Banco Nacional Ultramarino de Macau em que o seu histórico edifício, muito mais antigo que o do mercado municipal de Tomar levou, literalmente, com um arranha-céus envidraçado por cima e o resultado ficou bastante bom, dando até a ideia da complementaridade entre o passado e o futuro (ver imagens no fundo do artigo).
Deixo aqui algumas imagens ilustrativas da minha proposta:
Banco Nacional Ultramarino de Macau
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