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Inoperatibilidade da maioria relativa

por Virgilio Alves, em 14.07.09

Discute-se muito como será a composição da Assembleia da República que sairá da próxima eleição legislativa e que formará o espectro político na próxima legislatura, da eventual derrota do PS poderá sair vitoriosa Manuela Ferreira Leite primeira-ministra que chefiará um governo débil, porque tentará recuar na actual política de José Sócrates, e débil porquê? Porque se éverdade que esse pode ser o cenário previsível, não menos previsível é o facto de que não deverá sair uma maioria absoluta. Tornando mais precária a acção do governo e dependente da oposição e dos jogos e negócios políticos da AR. Por outro lado, José Sócrates, ainda que visivelmente deslocado do país poderá manter-se como primeiro-ministro, porque não se pense numa vitória certa do PSD, poderá eventualmente ver-se a braços com uma maioria relativa, o que ditará o abrandamento da acção da sua política e, necessitando do crivo da esquerda ou uma necessária, nada agradável concordância com a direita mais próxima, isto é, o PSD. Um bloco central disfarçado, isto porque me parece equiprovável que quer o PS quer o PSD poderão ganhar estas eleições, mas ao mesmo tempo, parece-me também provável que não se assistirá, de ambas as partes, da posse de maioria absoluta.


Pela direita é mais fácil uma aproximação do PSD com o CDS e com isso (e dependendo do resultado deste) caso Manuela Ferreira Leite ganhe, providenciar-se um governo de direita propriamente dito, mas que acarretará algumas questões consideradas essenciais ao CDS, porém dará independência do PSD face ao PS. Em qualquer dos casos, poderão tirar dividendos dessa posição. À esquerda, a análise não é tão linear, isto é, não esquecendo os resultados obtidos pelo BE e pela CDU, um possível acordo entre o PS e um destes partidos não é tão simples e pode mesmo falhar, ante a pretensão de ser governo ou do pseudo-facilitismo e projecção que uma posição de oposição dá, um acordo com o PCP parece-me mesmo improvável, e com o BE também, mas há custos, a subida de votação dá uma maior legitimização ao PCP e ao BE, isto é, José Sócrates teria de "pagar" a sua concordância recuando em vários aspectos, e com isso, e atendendo às agitações sociais, depender em certa medida destes para legitimar certas posições, mas como disse, um cenário muito improvável.


Espera-nos portanto uma legislatura que não será fácil para ambas as partes. Caso o PSD ganhe, será uma pesada derrota para o PS, e mesmo para esquerda, por outro lado, o mesmo não acontece com uma a vitória do PS, parecerá sempre que foi o PSD o responsável pela atenuação, sendo que porém isso se deve, em boa, medida à esquerda o PS.


Quem ficará a ganhar, são precisamente o PCP e o BE, em menor medida o CDS, deverão obter maior projecção no parlamento e na opinião pública, resta verificar como ficará as posições relativas ao PCP e BE, caso este último obtenha a terceira posição, soará como uma vitória estrondosa e o PCP terá que lidar com essa perda, apesar de se poder afirmar num aumento de votação, não deixa de ser um rude golpe, na tradicional posição que este ocupa desde muito, perderá alguma legitimidade. Se o bloco ultrapassa o PC, será o sinal de aviso não só para o PCP como para o PS e PSD, a ascensão abrupta deste.


É mais fácil para o PS lidar com o PCP do que com o BE, a longevidade e rigidez do PCP permitem ao PS uma melhor contraposição com este, o mesmo não acontece com o BE, um cenário desses, numa altura em que pode perder a maioria absoluta, é um caso preocupante. No íntimo de José Sócrates, penso que este prefere Jerónimo de Sousa a liderar a terceira força política do que Francisco Louçã.


Na próxima eleição legislativa, veremos ao "combate" PS e PSD e, ao mesmo tempo, ao "combate" nas trincheiras das esquerdas, com isto, o PSD ganha mais margem de manobra, pelo menos em termos de opinião pública.

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