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Mata em parte ao abandono

por Antigo Mail, em 12.09.08

Horta dos Frades    O Thomar Vrbe "armou-se em jornalista e foi em missão especial" à Mata Nacional dos Sete Montes, antiga Cerca dos Frades, como muita gente viu e muitas o dizem, resolvi levar a objectiva do Thomar Vrbe, a este espaço verde nabantino.

   Quinta-feira, o dia aparece um pouco cinzento, mas nada impede a uma visita à mata, em chegando, lá uma idosa prepara-se para iniciar o seu percurso de manutenção à guarda do voluntário que lá estava para guiar essa missão, isto depois de transposto o portão, à primeira vista o jardim que já foi a Horta depois Frades, parece frondoso e em boas condiçõs, mas uma vista mais minuciosa revela já algumas falhas. É que aqui, na mata não há gente que chegue e que dê conta do recado, um recado do tamanho da cerca, enorme em cuidados florestais, jardinagem e de lazer. Simplesmente as duas pessoas que lá se encontram, uma pelo ICN outra temporariamente pela Câmara Municipal de Tomar, são manifestamente insuficientes, para todos os serviços que um jardim desta natureza necessita, é necessário regar à mão, cuidar das plantas, recolher o lixo, observar a mata, percorrer as carreiras, desobstruir caminhos, dar informações, um sem fim de acções. Ultimamente notam-se alguns arranjos de cariz preventivo contra acidentes florestais, um corte de árvore aqui, uma barreira ali, pequenos trabalhos que impedem um maior risco de derrocadas, quedas de árvores ou de incêndios.

 

WC's encerrados na cerca    Esta visita tem como ponto de partida, obviamente a entrada, e vamos directo ao assunto, subimos para isso o caminho mesmo em frente aos lavabos, cuja perplexidade é generalizada a todos, aqui, ao contrário de muitas terra e lugares bem mais pequenos que Tomar, não há casas de banho, ou melhor, haver até que há, mas estão fechadas, diz-se à espera de fundos para a sua reabilitação, é então que se se apercebe que ou os visitantes já vem "tratados" de fora ou aguentam o "tratamento" ou "tratam-se" à socapa por entre a vegetação, ou muito simplesmente saem da mata para não voltar.

   Subamos mais um pouco, sempre junto ao muro da cerca que paralelamente percorre a subida da estrada que liga a cidade ao seu castelo e convento, intramuros deparamo-nos com mais um insólito, uma árvore estatelada ao comprido do caminho, até que não é um obstáculo intransponível, mas ainda assim foi suficiente para um transeunte que se encontrava no local à mesma hora que o Thomar Vrbe fotografava a planta e que achou por bem, diante desta árvore, dar meia volta e voltar para o início.

 

Árvores tombadas no chão.   Temos então de contornar o obstáculo se queremos seguir aquela trilha, e que nem descobridores ou Conquistadores Espanhóis, seguimos o nosso caminho em direcção ao (quase) desconhecido e embrenhar pela mata arriba, como se irá explicar apenas iniciamos aquele que se poderá descrever como a redescoberta da mata, tal é o abandono que se assiste. Mas digo que vale a pena, quanto mais não seja pela paisagem que se pode observar do alto da cerca e da vista sobre a Cidade de Tomar, o que nos faz antever qual será a razão de um trilho com uma vista tão bela não está tão bem cuidado, certamente nas repartições do Instituto Nacional da Conservação Florestal com vários trabalhadores a olhar para os computadores, devem ter tão parco orçamento que os visitante da mata nem sequer podem fazer as suas necessidades. Que se aguentem! Dirão eles.

Os carreiros nalguns pontos são estreitos e de difícil acesso.   Enfim após uns passos num terreno íngreme, lá vamos se vai subindo, mas não sei porquê, já noto um certo afunilamento da trilha, de repente parece que encolheu, bem não deve ser sinal de lavagem como na roupa, porque as silvas começam a emergir. À medida que subimos mais estrita e esguia se torna a carreira, não tarda nada, julga-se sinuosa, e já mais lentamente caminhamos devido a termos de nos esforçar para evitar ficar preso nas silvas, e as incomodativas ervas daninhas, assim avançamos aos ziguezagues por entre esses caminhos, se a isto juntarmos o calor então bem que se pode esperar a poeira e aquela sensação de que o ar está pesado e poluído, tal deve-se ao facto da secura das silvas e plantas aí existentes, se por ventura houvesse um sindicato das plantas e árvores certamente estas reivindicariam não serem discriminadas, "porque razão têm as árvores ao pé do jardim tabuletas com identificação da sua espécie, por acaso são mais árvore do que nós?" exclamariam. Estão aqui escondidas fora das ruas alcatroadas em torno do jardim. Após uns breves minutos chegamos ao vértice do muro da mata, ali perto majestosa e imponente ergue-se a muralha do Castelo, impõe de certa forma respeito pela sua importância, quer espiritual quer defensivamente, ainda rodeada de uma áurea mística inerente às estruturas militares e religiosas da Ordem do Templo. Para lá desses muros fez-se História com H grande.

 

Pormenor da muralha do castelo.   Aqui por esta muralha termina a mata e inicia o castelo, ou vice-versa. Podemos com atenção mirar por entre a folhagem e encontrar pormenores curiosos cujas imagens dariam bons quadros naturalistas onde a ordem temporal se funda com a natureza criando planos bonitos. Veja por si só.

 

  Por entre esta mística toda, o castelo e a natureza, os cheiros da mata, infelizmente, não pude ficar ali muito tempo, o cheiro nauseabundo de dejectos pairava no ar, se calhar alguém achou que com as casas de banho encerradas fosse melhor vir para aqui aliviar-se, será que teve pudor de quem pudesse passear pela alcáçova do castelo e pelo arruamento que lhe dá acesso? Segue-se o caminho, mesmo esta beleza e a falta de Árvores tombadas literalmente cortam passagem.civismo de alguns, o caminho continua estreito e difícil, aliás cada vez mais estreito e com silvados e ervas mais altas a barrar o caminho, densamente, as ervas se aglomeram já não somente nas bordas mas também invadem o centro da via, para a próxima tragam um sabre para imitar os filmes de Indiana Jones e começar a "escortachar" caminho. A propósito de "escortachar", convém o visitante fazer-se acompanhar de um machado ou de uma motosserra consoante o seu tempo disponível para desbastar mais uma ou outra árvore que literalmente se nos esbarram no caminho.

 

   Passado mais um obstáculo que obriga a uma certa engenharia, deparamo-nos com a imponente muralha, que aqui se mostra despida das suas companheiras verdes, outra vez impõe respeito pelo local, embora não haja respeito da parte de quem gere a mata, pois não possibilita acessos limpos, enfim, já todos sabem como é. Ao avançarmos ao longo dos A muralha apresenta-se majestosamente.muros e ameias castelares, parece ter-se deixado, enfim, para trás o caminho mais sinuoso, a partir deste ponto, entramos numa estrada alcatroada, o que nos faz pensar que voltámos à "civilização", tanto mais que os mirones que miram a quem passa por estes trilhos talvez de não ser usual a quem passa no castelo ver gente na mata ali mesmo ao pé das fundações das muralhas, devem pensar algo do género, "mas que estará aquele fulano a fazer ali?", pois é, daqui encontramos a estrada e a muralha e seguimos. Um pouco mais à frente, é raro, mas lá se vê passar uma pessoa, deve estar perdida, sei lá, a não ser que seja daqueles raríssimos que gosta de enveredar pelas descobertas desta mata. Sim ainda há quem lá vá à mata pelo prazer de descobrir a natureza e as relíquias que encerra.

 

   Mais uns passos e eis que quem pensa que a mata não tinha outras actividades, saiba que para além da antiga Horta dos Frades, e construído sob o Aqueduto dos Pegões, os lagares de azeite representava outra actividade da mata, uma vez mais os serviços do ICN não foram capazes de preservar esse conjunto e no final da década passada, num Antigos lagares de azeite em ruína.inverno, o telhado desses edifícios ruiu permanecendo apenas hoje as paredes em ruínas. Os mais afoitos poderão entrar, não há perigo, no edifício principal desses lagares, no chão jazem prostradas e perpetuando a memória enquanto a acção do tempo e da erosão, não fizer desaparecer, estão duas carroças onde ainda se notam umas espécies de pipas, as carroças e as pipas são, obviamente, pedaços de madeira, que já nem para uma lareira servem. o chão é empedrado ainda resistindo no centro à invasão das plantas rasteiras. Na fachada principal está o Aqueduto dos Pegões Altos, uma vez que a fachada frontal é coincidente com o Aqueduto, os que conhecem a mata e lêem este artigo, pensarão, já passou pela entrada para o convento, e têm razão, toda a razão, apesar de se especular sobre a ligação da cidade ao convento via mata andar por aí, até agora só em ocasiões especiais esta Porta da Condessa é aberta, são assuntos administrativos, que não nos compete julgar ou será que compete? Enfim seja como for, quem subir a mata até este ponto e quiser visitar o Convento de Cristo, tem de a descer e subir a ladeira de acesso ao castelo.

 

Aqueduto dos Pegões na mata.   A propósito muitos de vós ainda se lembram do aqueduto levar água, mas hoje está completamente seco, nada corre, nesse rego de água, que no antigamente enchia os tanques da mata e as cisternas do convento, será que a fonte secou ou haverá mau humana metida, falam que nalguns pontos do aqueduto, nomeadamente a parte subterrânea de que alguns proprietários o teria destruído para a construção ou aproveitamento de água, não me admirava muito que houvessem tais usurpadores de um património comum multissecular, enfim, em qualquer dos casos, um esclarecimento público faz-se necessário, e se possível, proceder à sua recuperação.

Calheiro do Aqueduto dos Pegões   Em termos de água, actualmente está-se a consumir água potável da rede, o que se traduz num enorme desperdício face aos actuais problemas de escassez de água, ora, porque não imitar o sistema antigo, ou seja, o de se colectar água nos tanques da mata, assim, em vez de se gastar água potável da rede, e de se esbanjar rios de dinheiro com a fonte cibernética aos pedaços, porque não, instalar um colector no Nabão, vulgo bomba de água e bombeá-la para o sistema da mata outrora abastecido pelo Aqueduto, o que não invalidade nem substitui apurar-se as causas e os responsáveis pela falta dela a correr pelo calheiro do aqueduto, e se necessário responsabilizar criminalmente qualquer atentado ao bem público, incluindo a reconstrução e mautenção do aqueduto quer intramuros quer fora da mata, de modo a manter este monumento restaurado e funcional, estes factores combinados darão à mata o seu brilho que há muito desapareceu, que é a humidade e o verdejar devido à acção da água literalmente a "escorrer" mata abaixo.

Cadeira D'el Rey escorada.   Ao andarmos uns bons metros avistaremos outra estrutura imponente na mata, chamam-lhe a Cadeira D'el Rey, nada mais é do que um enorme tanque, o primeiro na linha de água da mata e o principal, ao pé vemos o aqueduto desaparecer por uma gruta subterrânea, para fora da cerca, é aqui que se processa à "separação das águas" através de um sistema incrustado no chão que divide o caudal em dois, um irá encher o tanque o outro seguirá caminho pelo aqueduto em direcção ao convento, após o enchimento do tanque principal, o que ainda demora, ao atingir uma certa quota, começa a sair por um orifício no tanque.

   Infelizmente se clamamos por justiça em relação ao aqueduto, que dizer do estado desta estrutura, o ICN também devia ser responsabilizado, como se viu o edifício dos lagares de azeite ruiu, e aqui perante uma ameaça de ruir uma das paredes do tanque, apenas se procedeu ao escoramento desta, não passa pelos olhos de quem gere este património de proceder ao seu restauro.

Uma das "ruas" da mata   Deste tanque deveria sair a àgua que iria percorrer as ribeiras da mata, inundando daquele verde especial a mata, é curioso este sistema e em alguns pontos, consegue-se uma vista agradável, o tempo escasseia e está na altura de voltar, ainda só se viu metade, agora seguiremos os trilhos de água desérticos, andaremos mais uns passos, até encontrarmos um caminho de volta, e como já estamos pelo fundo da mata, o único caminho mesmo é o que vai dar a uma avenida, isso mesmo, uma avenida, mas não de prédios e com carros a buzinar, é uma avenida de árvores, um caminho recto e de agradável prazer percorrer, aqui estão instalados vários pontos de passagem do circuito de manutenção física e, claro, voltamos à parte da mata mais "povoada" onde já é mais comum encontrar gente, no fim, à direita, avista-se uma fonte, esta fonte vinda de carreiros desde a Cadeira D'el Rey, enviaria água para o segundo poço. Seguimos pela estrada à sua frente, já se avista o jardim de novo, uns metros mais à frente e finalmente vemos o último tanque. Do outro lado do jardim, existe mais outra ribeira, que alimentava de água essa parte da mata.

 

   Assim o Thomar Vrbe chegou ao fim desta sua curta visita, para trazer algumas imagens dos procedimentos menos correctos que se estão a fazer na Cerca dos Frades.

 

Jardim da Horta dos FradesCalheiro do aqueduto está seco.

Uma das ribeiras da mata.Canal de alimentação dos tanques.

 

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publicado às 23:44


2 comentários

De Luís Ribeiro a 14.09.2008 às 20:50

Olá Virgílio!

Brevemente falarei sobre o sua publicação sobre a Mata, é que durante o fim-de-semana não tenho muito tempo disponível.
Mas está aqui um excelente trabalho!
Parabéns!
Em relação ao projecto, não tive acesso a ele, apenas vi a notícia no Jornal Mirante, aqui:

http://www.omirante.pt/index.asp?idEdicao=51&id=24256&idSeccao=479&Action=noticia

Continuação de bons trabalhos!

Lui´s Ribeiro

De Pedro Antunes a 11.11.2008 às 23:34

Aqui está um excelente artigo que me vai ajudar bastante no trabalho de GTC... Vinha mesmo a calhar, e não que foi o Virgílio a escreve-lo. ;o)

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